SALVADOR – A retomada do emprego formal tem sido mais lenta no pós-pandemia do que a procura pelo Bolsa Família nas regiões Norte e Nordeste do país, segundo levantamento do DeltaFolha, que cruzou registros do Portal da Transparência, da CGU (Controladoria-Geral da União) e do Ministério do Trabalho.
Os dados mostram que os empregos com carteira assinada nas duas regiões cresceram gradualmente. Ao mesmo tempo, o número de beneficiários do Bolsa Família teve um salto em 2022.
Os movimentos, que divergem do observado no restante do país, acendem o alerta para o descompasso entre o número de pessoas contribui com a Previdência e o daquelas que recebem recursos do Estado.
Para as comparações, foi analisado, além dos dados do Bolsa Família, o estoque de emprego do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), que considera a quantidade de pessoas com carteira assinada atuando na iniciativa privada e no setor público.
Antes e depois da pandemia, no Nordeste, o número de beneficiários do programa social saltou de 6,758 milhões em janeiro de 2020 para 9,773 milhões em janeiro de 2023 (aumento de 44,6%). Já o estoque de empregos formais era de 6,062 milhões e subiu para 7,006 milhões (alta de 15,6%).
A diferença entre empregados e inscritos no programa já vinha crescendo nos últimos anos, mas é a partir do início de 2022, um ano após o início da vacinação no Brasil, que o descolamento entre os dois grupos fica mais visível.
Naquele momento, o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tinha acabado de substituir o Bolsa Família, marca dos governos petistas, pelo Auxílio Brasil, em busca de votos entre os eleitores de baixa renda.
Bolsonaro acabou derrotado nas urnas e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi eleito para seu terceiro mandato, tendo a recriação do Bolsa Família, em março deste ano, como uma das suas primeiras medidas.
O petista venceu em todos os estados nordestinos e em 3 dos 7 estados do Norte, no segundo turno de 2022.
De janeiro de 2022 a janeiro de 2023, os participantes do programa de transferência de renda no Nordeste subiram 18,67%, enquanto o estoque de carteira assinada aumentou 5,47%.
Já no Norte, os beneficiários aumentaram 48,97%, passando de 1,701 milhão no início de 2020, pré-pandemia, para 2,534 milhões em janeiro deste ano. Para os trabalhadores com carteira, a alta foi de 18,39%, de 1,726 milhão para 2,043 milhões no mesmo período.
Na região, também houve um descolamento a partir do ano passado: a procura pelo Bolsa Família cresceu 27,1%, enquanto o estoque de empregos formais aumentou 5,55%.
Com isso, a diferença entre beneficiários e celetistas cresceu 73,7% entre os nordestinos e 243,1% no Norte de 2022 a 2023.