Moradores de rua se aglomeram em hospitais em busca de comida

 Com o fechamento do comércio no Centro e a restrição à circulação de pessoas impostas pelo decreto governamental no Amazonas, pessoas que vivem na rua estão se concentrando nos arredores de hospitais de Manaus em busca de alimentos ou se aglomerando em locais onde podem matar a fome.  

Foto: Divulgação / RCOM

Aluísio Campos, 40, conselheiro fiscal da Ardam (Associação de Redução de Danos do Amazonas), diz que a maioria dessas pessoas se abriga no Centro Histórico de Manaus e feiras no entorno, mas com tudo fechado e sem a possibilidade de ações de caridade nas ruas, a única alternativa são os prontos-socorros. 

“Com o decreto do governo está tudo fechado. Inclusive as ONGs que faziam distribuição de sopa, alimentação, higiene não estão podendo fazer isso”, diz. 

É o caso de uma mulher, que a reportagem decidiu não identificar para que não seja ainda mais exposta. Ela passou a morar na rua com o filho de 8 anos durante a pandemia. “Veio todo mundo para a frente do (Hospital) 28 de Agosto, onde é uma área de risco para poder se alimentar, para poder conseguir comida. Eu ‘tô’ por aqui, eu vivo aqui pelo ‘28’ com o João”, afirma. 

A mulher vendia bombons na rodoviária de Manaus, que está fechada para o transporte intermunicipal. Sem renda, precisou vender o cabelo para pagar uma diária em um local para dormir com o filho. “De onde que eu vivo? Da Rodoviária, ‘tá’ fechada. O que eu faço? Vendo bombom, não posso vender, porque ‘tá’ tudo fechado”, diz. 

“Eu não tenho condições de pagar aluguel, eu não condições de pagar uma diária mais. Eu vendi meu cabelo, ‘pra mim’ pagar uma diária para botar o meu filho, entendeu?”, relata. 

A mulher reclama da falta de assistência. “Tem mãe morando na rua dentro do cemitério com filho de três anos, tem várias pessoas na rua. Vê se alguém consegue fazer uma coisa por nós. Eu tenho para onde clamar que é o Senhor primeiramente, a Deus, mas pedir ajuda eu tenho que pedir ajuda do governo”, diz. 

Aluísio afirma que no hospital pessoas em situação de vulnerabilidade não conseguem refeições no posto da Semasc (Secretaria Municipal da Mulher, Assistência Social e Cidadania).  

“A gente fez uma denúncia recentemente para o Ministério Público que a Semasc está com uma tenda na Fundação Alan Kardec para a distribuição de sopa, mas que está negando essa sopa para a população em situação de rua. Só está sendo distribuído para familiares de pessoas internadas no 28 de Agosto”, afirma. 

Semasc negou a informação e informou que tanto parentes quanto moradores de rua são atendidos. 

Segundo a pasta, o que tem acontecido na tenda do Hospital 28 de Agosto é que as equipes têm presenciado pessoas pegando alimentos em diversos grupos de doação e depois entrando na tenda da Semasc para pegar mais comida. 

De acordo com a secretaria, para pessoas em situação de rua, há o Centro Pop, localizado na Rua Fragata, bairro Petrópolis, e mais cinco cozinhas comunitárias: Unidade Panair, no Educandos; Unidade Colônia Oliveira Machado, na Travessa Francisco de Queiroz; Unidade Colônia Antônio Aleixo, na Rua Padre Mário; Unidade Santo Agostinho, Rua Jerió; e Unidade Val Paraíso, no Ramal Nova Esperança. 

O conselheiro da Ardam afirma que Estado e Município não têm atendido esse público. “O que a gente percebe é que apesar de todas as recomendações publicadas pelos órgãos de controle, nem o governo, nem a Prefeitura de Manaus têm feito as ações necessárias para a proteção dessa população”, diz. 

Embora as recomendações sanitárias sejam para lavar as mãos com frequência, um outro morador de rua que dorme em frente ao Hospital Platão Araújo, zona leste, afirma que não há banheiros para atendê-los. 

“Até um banheiro para tomar um banho ninguém tem. Porque se a gente for pedir banheiro aqui na rua ninguém tem, nem que seja um sanitário. Urinar tem que urinar na rua. Uma necessidade nossa tem que procurar um lugar restrito por ali”, diz. 

A Seas (Secretaria de Estado da Assistência Social) informou em nota que segundo a Lei Orgânica de Assistência Social em seus artigos 13 e 15, o papel da pasta é de avaliação, apoio técnico, coordenação e monitoramento da política de assistência social desenvolvida pelos municípios. 

A Seas informa que em situações de caráter de emergência as ações de atenção às demandas sociais se realizam em conjunto com o município, ente que é responsável pela execução da política. 

Conclui afirmando que anualmente o Estado destina recursos do cofinanciamento estadual para o município para projetos da proteção Social Básica e Proteção Social Especial.


Fonte: Laranjeiras

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