Oito meses após a morte do pai, vítima do Covid-19 a miss Manacapuru 2009, Geovana Matos Rocha, de 27 anos, reviveu o drama da falta de atendimento no precário sistema de Saúde do Amazonas.
Foto: Divulgação / RCOM
Com sintomas de Covid-19, ela procurou o Hospital e Pronto Socorro 28 de Agosto neste fim de semana, e em vez de tratamento para o coronavírus, recebeu uma receita de calmante do médico, que mandou ela se acalmar, passear no shopping e não temer a morte: “Relaxa, tu não vai morrer.”
Desesperada para fazer um exame que confirmasse o Covid-19 e traumatizada por perder o pai, com febre, dores nas costas, falta de ar, dor de cabeça intensa, tosse, sem olfato e paladar, ela voltou para casa, no bairro Compensa, onde tenta se tratar por conta própria.
Geovane, pai de Geovana, morreu em abril, após lutar como a filha para ser atendido e acabar intubado com tubo furado
“Meu sentimento é de revolta. Sinto na pele o que meu pai passou. Quando tentou buscar ajuda antes de agravar e foi negada. No mesmo lugar, no Hospital 28 de Agosto” disse. Geovana move um processo contra o Estado pela morte do pai, Geovane Reis. Entubado com um tubo furado no Delphina, após não conseguir atendimento no 28 de Agosto e no polêmico hospital de campanha da Nilton Lins, certamente o taxista estaria revoltado se visse o descaso pelo qual a filha passou.
Calmante para tratar Covid-19, Só na rede de Saúde do Amazonas
CALMANTE
De acordo com Geovana, o médico Elton Moraes, que assina a receita, aconselhou a paciente a ir dar uma volta no shopping e aproveitar o domingo, mesmo com sintomas de Covid-19. Ele disse que não há testes na unidade de Saúde e que apenas segue o protocolo.
Geovana suplicou por uma tomografia, mas o médico disse que era impossível fazer. Assim como aconteceu com o pai, ela teme que a doença agrave por falta de atendimento adequado. O Amazonas tem mais de 180 mil infectados e passou dos 5 mil mortos neste domingo. No Estado onde se comprou respiradores em loja de vinhos, as pessoas seguem sofrendo sem estrutura para encarar a pandemia.
Geovana toma remédios em casa e pede à Deus para não ter que voltar para o Hospital 28 de Agosto
A luta agora é para conseguir a cura em casa. Geovana quer distância dos hospitais públicos do Amazonas, por motivos bem óbvios. “Se agravar nem sei… Estou fazendo o possível para não agravar. A princípio tratar em casa e tentar me recuperar…Com essas pessoas que estão cuidando de mim. Meu ex-marido é enfermeiro e médico quase formado, e minha amiga enfermeira. Mas me sinto bem cansada…. em questão de respiração.”
